sexta-feira, 3 de abril de 2009

Monitoramento da Arara-Azul-de-Lear ajuda a salvar a espécie

Brasília (02/04/09) - A Arara-Azul-de-lear, uma das aves mais ameaçadas de extinção do planeta, começa alçar vôos a caminho do processo de recuperação da espécie. Desde 2001, analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres (Cemave) pesquisam o habitat natural e acompanham o ciclo reprodutivo da Anodorhynchus leari, nome científico dado ao animal encontrado apenas em uma porção do semiárido baiano. Em menos de uma década, o número de indivíduos cresceu mais de três vezes. Embora cautelosos, os pesquisadores não escondem o entusiasmo com nascimento dos filhotes da temporada 2008-2009.
A época da reprodução, que começa em meados de setembro e segue até abril, vem sendo cuidadosamente monitorada por dois biólogos que atuam na Base de Pesquisas sobre a Arara-Azul-de-lear, em Jeremoabo, norte da Bahia. A expectativa não poderia ser melhor: os pesquisadores acreditam que de 100 a 150 recém nascidos se preparam para deixar os ninhos rumo ao primeiro vôo. Muito em breve, eles irão se juntar aos raros adultos da espécie, cuja sobrevivência depende do trabalho de preservação executado nos últimos anos. A Arara-Azul-de-lear nidifica unicamente nas cavidades naturais dos paredões de arenito localizados na região sul da Estação Ecológica Raso da Catarina, nos sítios reprodutivos conhecidos como Toca da Velha, no município de Canudos, e Serra Branca, no interior da própria unidade de conservação. Sessenta quilômetros separam as duas áreas, que também são usadas como dormitório pelas araras. De acordo com o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, a principal ameaça à essa ave é a captura para o comércio ilegal, além da redução da palmeira licuri, cujo coco é o mais importante item alimentar desses animais.
Além de ser tempo de reprodução, a chegada das chuvas é a melhor época para se estudar os hábitos da Anodorhynchus leari. Mais do que pesquisas sobre a biologia reprodutiva da espécie, os biólogos do Cemave realizam censos periódicos para contagem da população. No primeiro deles, em 2001, foram contabilizados 246 indivíduos. No último, feito em julho do ano passado, 960 araras viviam em Toca Velha e Serra Branca, um aumento de quase 50% em relação à contagem de 2006, que registrou 636 aves. Ainda em 2006, a quantidade de ninhos estimada nos únicos dois sítios reprodutivos foi de 63.
A análise do comportamento das araras é feita de longe, sem contato direto para não haver risco de prejudicar os reprodutores e seus filhotes. Os biólogos Kléber de Oliveira e Antônio Eduardo Barbosa são os responsáveis por acompanhar o ciclo reprodutivo 2008-2009. Semanalmente, durante três dias consecutivos, toda a movimentação de parte dos 77 ninhos mapeados por eles nos últimos meses é atentamente observada. De binóculos em punho e com a ajuda dos galhos das árvores mais altas e próximas aos paredões, a dupla estuda o vai e vem das aves que partem para as áreas de alimentação e a vigília cautelosa dos casais cujos rebentos se preparam para voar.
A rotina começa cedo, logo ao raiar do dia.“Iniciamos o monitoramento em dezembro com base nas observações dos ninhais cadastrados nos anos anteriores. Identificamos as cavidades nas quais a visitação e zelo das aves eram intensos, indicando a presença dos ovos, uma média de três por casal. Agora, esperamos com ansiedade a saída dos filhotes”, conta Kléber de Oliveira. Ao nascer do sol, as araras voam em busca do fruto da palmeira licuri, geralmente em duplas. “São aves monogâmicas, se relacionam com apenas um parceiro para o resto da vida. Quando adultos chegam a medir de 70 a 75 centímetros. Os casais em nidificação procuram alimentar-se o mais perto possível das cavidades que abrigam os filhotes. Trata-se de uma espécie muito arisca, principalmente durante esse período, que abandona o ninho ao menor sinal de perigo. Por isso, o nosso cuidado em observar sem sermos notados pelos bichos”, pondera o biólogo. Entre a postura do ovo e nascimento do filhote conta-se mais ou menos 87 dias. No ciclo de 2005-2006, cerca de 80 filhotes saíram nos ninhos. “O sucesso reprodutivo é indicado pelo número de aves que voaram, no máximo duas por ninho. Como é espécie endêmica da região do Raso da Catarina, sua distribuição é muitíssimo restrita, assim como a alta especificidade alimentar e a particularidade de seu habitat, no caso, os paredões para nidificação e dormitório. Mas, os sinais de recuperação desses animais são claros e trabalhamos para reduzir o status de ameaça, o que é importante e bem animador. Nosso trabalho começa a dar bons resultados”, avalia o analista ambiental.
(Texto: Márcia Neri - Fonte: ASCOM/ICMBio)

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