sábado, 25 de agosto de 2012

Felicidade Interna Bruta

“Quem não sabe para onde vainão chega a lugar nenhum”, disse alguém. Seja em sua vida profissional ou na vida pessoal, planejar é preciso. Conheço pessoas que não fizeram planos para sua vida e que depois se vêem infelizes "no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar". Como eu vim parar aqui? Era isso que eu queria para mim?, pensam elas. Escolhas tem conseqüências e escolhas são feitas todos os dias e em todos os minutos. As suas escolhas o levaram inevitavelmente à uma reação em cadeia de eventos casuais e aleatórios que o trouxeram a exatamente este instante em que você lê esta pergunta: você está feliz agora?
Alguém disse “cuide dos meios que o fim cuidará de si mesmo”. Conheço pessoas que poucos planos fizeram para sua vida e que hoje se encontram felizes e realizadas com suas conquistas e com a vida que levam, principalmente porque tiveram sabedoria para fazer as escolhas certas.
Além de planejar a vida, é preciso vivê-la. A maioria de nós não dá a real importância ao tempo presente. Vivem no passado remoendo recordações tristes que ainda deixam mágoa e rancor ou revivendo lembranças alegres de uma época em que “éramos felizes e não sabíamos”.
É curioso como colocamos a felicidade onde não estamos e em coisas que não temos. Serei feliz quando eu emagrecer, ou quando eu for rico, quando eu casar ou até quando eu ficar solteiro. “Serei feliz quando eu for embora daqui” e logo depois “serei feliz quando eu voltar para lá.”
Tomados por ansiedade ou medo, insistimos em viver no futuro, em um dia em que alcançaremos o tão sonhado objeto fonte de felicidade e esquecemos que somente o que fazemos agora é o que realmente importa.
Planejar é preciso, mas viver também é preciso. Visitar o passado, recordar das alegrias, aprender com suas lições e voltar ao presente. Visitar o futuro, fazer metas e objetivos práticos e agir no presente. Inclusive comemorar cada etapa alcançada como uma conquista plena.
Futuro e passado são ilusão. Peças pregadas por nossa complexa mente em um véu de penumbra que pode nos ofuscar para o que realmente importa: o Agora.
“Se não agora então quando?” Só agora fazemos escolhas, só agora podemos agir, só agora podemos fazer a diferença, só agora podemos ser felizes. Não ontem ou amanhã e nem daqui dez anos.
Parece tão simples falar, mas é tão difícil praticar. Fundamentalmente esta forma de pensar ausente do Agora é uma questão cultural. Conquistas, guerras, o progresso da sociedade, o avanço da tecnologia dependem da insuportável insatisfação do homem com o Agora. Querer mais, conquistar mais, crescer mais em um ciclo vicioso onde não importa o quanto você tenha, a felicidade e a satisfação nunca estarão lá, obrigando-o a querer mais, conquistar mais e crescer mais.
E por ser uma questão cultural é que há esperança. Não é algo inerente do homem e nem todas as culturas pensam assim. Inclusive algumas chegam ao extremo de há séculos estarem estagnadas no mesmo ponto. Sociedades em equilíbrio dinâmico que atingiram o seu ápice dentro daquilo que elas entendem ser suficiente para atender suas necessidades. Primitivas? Depende do que você entende por “primitivo”.
O Butão é um país que viveu isolado durante séculos. O terreno acidentado e o acesso difícil ajudaram este povo a preservar a harmonia e suas tradições. É um lugar de gente simples onde a maioria vive no campo e trabalha na terra. Lá as idéias convencionais de desenvolvimento não são aplicadas. Lá o parâmetro de desenvolvimento é medido não pelo Produto Interno Bruto (PIB), que mede quantidade, mas pela Felicidade Interna Bruta (FIB), que mede qualidade. O país tem fome zero, analfabetismo zero, índices de violência insignificantes e nenhum mendigo nas ruas. Não há registro de corrupção administrativa e o povo adora o rei.
Se a busca pela felicidade para uma sociedade sustentável lhe soa piegas demais, troque esta palavra com “f” por “qualidade de vida”.
Diante de tanta tragédia e miséria, sei que não é uma busca fácil, mas pode ser que a felicidade não esteja no final, mas em cada pequeno momento que acontece agora.
Erick Caldas Xavier
Secretário Executivo do CORIPA, Secretário de Meio Ambiente e Turismo de S. J. do Patrocínio, Conselheiro do Conselho Estadual de Recursos Hídricos e Vice-presidente do CRBio 07.

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