sábado, 11 de agosto de 2012

Curiosidade

Esta semana, recebemos a notícia de que após percorrer 250 milhões de quilômetros pelo vácuo, a sonda espacial Curiosity pousou com perfeição em solo marciano. Com uma bateria de plutônio, a sonda poderá ficar por até uma década rastreando a superfície de Marte. É com base nessa missão que a NASA e diversos outros laboratórios poderão afirmar se realmente existiu vida em Marte, respondendo à uma das perguntas mais antigas da humanidade: “Estamos realmente sozinhos?”.
Muitos, por completa ignorância, questionam os investimentos realizados em missões espaciais e que estes recursos poderiam ser gastos em coisas mais imediatas como, por exemplo, para alimentar centenas e milhares de pessoas. Como se o problema da fome do mundo fosse a ciência e não a corrupção e a desigualdade social. Infelizmente a história está repleta de pessoas que, como resultado do medo, ou por ignorância, afugentaram as luzes impedindo conhecimentos de imensurável valor. Nós não devemos deixar isso acontecer de novo.
Sei que bilhões são gastos com programas espaciais, mas vale lembrar que se não fosse a missão Apolo 8 ter tirado a foto de um planeta Terra pequeno e frágil nascendo no horizonte lunar, hoje meio ambiente e sustentabilidade seriam palavras inexistentes em nosso vocabulário e ausentes de nossa corajosa atitude. O “Nascer da Terra”, como já foi falado aqui, é o nome dado à fotografia AS8-14-2383HR da NASA tirada por William Anders durante a missão Apollo 8 à Lua. É a primeira foto da Terra vista do espaço, marco do início do movimento ambiental como conhecemos. Galen Rowell, falecido e importante fotógrafo da vida selvagem, disse desta imagem que ela era "a fotografia ambiental mais influente alguma vez tirada". Em 2003, a revista Life listou-a entre as "100 fotografias que mudaram o mundo".
Esta foi a maior das grandes revelações da exploração espacial. A imagem da Terra, finita e solitária acomodando toda a espécie humana através dos oceanos do tempo e do espaço.
Vivemos em um pequeno planeta que chamamos de Terra, terceiro de um pequeno sistema de oito planetas e centenas de luas, que possui uma pequena estrela amarela em seu centro. Esta nossa pequena estrela chamada “Sol” gira na periferia escura e fria de nossa galáxia batizada por nós de Via Lactea e é apenas mais uma das mais de 200.000.000.000 (duzentas bilhões) de estrelas que a constituem. Se você é razoavelmente bom em matemática (ou tem uma calculadora ao alcance de sua mão) multiplique esse valor por no mínimo 1500 bilhões de galáxias e você terá o número mínimo de estrelas que existem no universo. Comprovadamente, grande parte destas estrelas possuem planetas e grande parte destes planetas são parecidos com o nosso.  Diante dessa infinidade matemática, se o fenômeno da vida aconteceu apenas naTerra, então o universo é um grande desperdício de espaço.
A ciência está atrás do que o universo realmente é, não do que nos faz sentir bem. O que é mais assustador para você? A ideia de extraterrestres em mundos estranhos, ou a ideia de que, em todo este imenso universo, nós estamos sozinhos? Às vezes acredito que há vida em outros planetas às vezes eu acredito que não. Em qualquer dos casos, a conclusão é assombrosa.
Nossas atitudes, nossa pretensa importância de que temos uma posição privilegiada no Universo, tudo isso é posto em dúvida por esse pálido ponto azul vagando pelo universo. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos.
Se um dia encontrarmos provas de que a vida surgiu em outro lugar fora de nossa Terra, perceberemos que fazemos parte de uma mesma espécie vivendo juntos em um mesmo planeta, que não está nem aí para o país em que você nasceu, para a cor da sua pele ou à religião que você professa. Neste dia as pessoas entenderão que são uma única nação e um único povo, e que compartilham com todos os outros seres (plantas, animais, bactérias, protozoários, algas e fungos) de uma mesma origem terráquea.
Um menino tolo certa vez disse “se as pessoas sentassem fora e olhassem para as estrelas todas as noites, eu aposto como elas viveriam bem diferente. Quando você olha para o infinito você percebe que existem coisas mais importantes do que aquilo que as pessoas fazem todo o dia”.
Percebendo a pequenez de nosso planeta, de nossa existência e de nossas futilidades e mesquinharias, posso dizer que diante da vastidão do tempo e da imensidão do universo, é um imenso prazer para mim poder dividir um planeta e uma época com você.
Uma homenagem a Carl Sagan (1934-1996). Astrônomo, cosmólogo, escritor e divulgador da ciência.
Erick Caldas Xavier
Secretário Executivo do CORIPA, Secretário de Meio Ambiente e Turismo de S. J. do Patrocínio, Conselheiro do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Vice-presidente do CRBio 07.

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