sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O avião Apoena

"Não canso de referir nesta coluna a obra de Augusto de Dourado Gusmão acerca da revolução federalista no Rio Grande do Sul, “Os Voluntários do Martírio”. Aliás, característica comum a Santa Catarina e ao Rio Grande do Sul, no final do Império e também na República, foi abraçar as tais “causas perdidas”. Perdidas ou não, elas serviram para alavancar sentimentos ou ideais políticos que foram essenciais para a construção da Nação. Agora, vi a notícia de que foi construído um avião não-tripulado com tecnologia nacional para vigilância da Amazônia chamado Apoena. O Apoena fiscalizará o desmatamento, coletará dados e poderá capturar imagens de alta resolução. Creio que o Brasil precisa de mais Apoenas. É preciso que todos saibam que o patrimônio nacional – seja ele a floresta amazônica, a mata atlântica, seja o mar ou outras riquezas – é bem comum de todos os brasileiros e não está à venda, não está à mercê de interesses meramente privados.
Não podemos exigir o entendimento disso de pessoas cuja vida inteira, desde a infância e vendo o exemplo dos pais, pautaram a sua conduta pelo interesse puramente pessoal. A teoria criminológica da associação diferencial, que diz que filho de bandido, bandido será, se aplica perfeitamente a esses casos, pois é quase impossível, pelo convencimento do agente moral, que essa pessoa entenda alguns argumentos.
Para elas, existe a lei, que independe de convencimento. O que é grave é que servidores públicos, dirigentes de órgãos ambientais e agentes políticos se curvem a esses interesses privados por medo, dinheiro, poder ou seja lá o que for. Se não tem independência, esses, sim, devem ter a dignidade de se afastar do cargo que ocupam.
A vida passa, mas as palavras e atos permanecem. A história se encarrega de lembrar as escolhas das pessoas de poder. Que constrangimento maior para toda França do que o governo colaborador do nazismo em Vichy, capitaneado por Phillipe Petain. Por aqui, o futuro se encarregará de lembrar servidores públicos e políticos que rifaram a riqueza do País para aventureiros. Paulatinamente, estamos nos consolidando como neocolônia de bens primários, tal qual tem sido desde o descobrimento.
Espero, sinceramente, pelo sucesso do avião Apoena e que haja mais deles pelo Brasil afora, especialmente em Santa Catarina".
Dra. Samantha Buglione
(Fonte: Jornal "A Notícia" N. 894 - Opinião, 21/09/2010)

Nenhum comentário: