segunda-feira, 30 de março de 2009

Vestígio Casual

"Uma linha. A mesma linha, junto de algumas palavras. Duas linhas. Mais palavras. Variação de tempo entre a primeira e a segunda linha. Não muda nada! Está tudo junto, independente de qualquer conceito de tempo. Vejo da mesma maneira. Sinto.
Cada segundo que se passou, não existe mais. O primeiro pedaço de minuto tomado ao olhar o texto escrito. Outro pedaço, agora. Infinitas divisões em mais nesse pequeno pedaço. Partes distintas, sentimentos iguais. Foram juntos para o mesmo cesto.
Cada minuto que se passa é a mesma história. Passagem do tempo? Não sinto. Nunca o fiz. Tempo não existe e mesmo não existindo se divide para mim: agora e o não-agora, e nunca de outra maneira. E agora é tão rápido quanto eu puder me distrair. Tão lento quanto. Tão infinitamente pequeno para definir.
Como que defino algo que não existe? Esse pensamento estaria destruindo a idéia dos planos? Não. Eles existem. Quantos puderem existir, Infinitos. O eu-agora, o eu-antes e o eu-depois estão juntos. O eu-há-dois-dias tenta ser o eu-daqui-dois-anos. Exatamente no mesmo instante, eu-daqui-dois-anos se lembra do eu-há-doi-anos-e-dois-dias, rindo de tão tolo que este era e do quanto ele poderia ter dito para o eu-há-dois-anos-e-cindo-dias. Quanta diferença faria. Porém, a diferença está sendo feita.
Infinitas possibilidades que geram experiência infinita mais um tanto. Enquanto um eu-há-algum-tempo virou à esquerda em uma rua, um outro-eu-há-algum-tempo virou a direita. Olha, naquele canto! Um outro acabou de passar reto, pois não havia nada que o obrigava a desviar o caminho.
O que ajuda a pensar que algo existe ou deixa de existir? Que estão aglomerados num conceito igual que se expande da maneira que lhe porvir, ou aqueles que são tão distantes um do outro e ainda assim se mantêm concretos e imutáveis?
Uma da manhã, segunda-feira de Natal, e aparece algo assim? Eu lhe amo, você sabe, mas o sono impede minhas sinapses. Desculpe.
Como nada disso existe mais, não tem o que se desculpar além do sentimento de culpa em si. De uma maneira ou de outra, ele existe e está afetando. Agora, não mais.
Tenha um bom dia!"
(Matheus De Giovanni - Anjo Misantropo, p. 105)

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