"Desde a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente muita coisa mudou por lá e, pelo que se tem visto, não foi para melhor.
No que se refere à Educação Ambiental os problemas são latentes e não mais podem ser tratados como se não existissem. Na época da Marina, era Marcos Sorrentino o diretor da Diretoria de Educação Ambiental – DEA, que passou a ser dirigida por Lúcia Anello. No mês de junho próximo passado anunciou sua saída.
Esta notícia provocou uma série de debates e que revela o quadro desolador atualmente vivenciado pela Educação Ambiental em que não se está dando o devido valor. Enquanto a Marina esteve à frente do MMA muitos avanços foram verificados. Também se conseguir fazer forte resistência aos ataques daqueles que pretendiam a desestruturação da Legislação Ambiental brasileira. Hoje, no entanto, vivenciamos um processo articulado com vistas a retalhar o Código Florestal e, de resto, as principais leis que tutelam o meio ambiente. Essa organização vem desde a bancada ruralista no Congresso Nacional, passando pelo Ministério da Agricultura e por setores do próprio Ministério do Meio Ambiente, que não tem conseguido realizar um “empate” com qualidade.
Parte do movimento ambientalista tem se manifestado sobre o assunto, algumas críticas são totalmente pertinentes outras nem tanto.
A ex-ministra Marina Silva disse insistentemente que devemos criar políticas de Estado e não de Governo. Teorizando esse ensinamento, quando ainda era Superintendente do Ibama-PR, eu dizia que a sociedade deveria se apropriar das ferramentas e dessas políticas e criar meios próprios para conduzi-las, sem, necessariamente, contar com o apoio (quase único) do governo central.
Sempre ponderei sobre a problemática de programas que mesmo depois de conquistar apoio e espaço na sociedade ainda assim se viam totalmente dependentes de recursos do Governo. Isso é um perigo, pois o governo muda e os seus dirigentes mudam. Então, haveria de se ter garantias de continuidade dentro da própria sociedade, com a criação de mecanismos de sustentação, mesmo a despeito de qualquer crise (econômica) ou ideologia de governos que podem destinar ou não recursos para programas de EA.
Marcos Sorrentino e Marina Silva, ambos com a sensibilidade de seres humanos diferenciados, conquistaram muito no MMA. Faltaram recursos, não tiveram dúvidas, foram atrás de apoios, colocando em prática a tal 'transversalidade'.
Certa vez Paulo Freire disse: 'aqui estamos, talvez o ponto de onde devêssemos ter partido'. Penso que ficar ruminando questões voltadas para a aparente inoperância do MMA, pelo menos em relação à EA, não deve ser o principal ingrediente do VI Fórum de EA que se avizinha. Antes, deve ser um momento de profunda reflexão para apontar saídas. Buscar parcerias comprometidas com a causa (nesse aspecto as universidades públicas podem ser ou continuar sendo bons parceiros, as empresas -públicas ou não- que têm a obrigação de expressar a face da responsabilidade social também, entre outros).
Lembro de uma frase emblemática da Marina: 'a sociedade tem de constranger eticamente os governantes'. Mesmo em forte crise por que passam a Câmara de Deputados e o Senado Federal, o movimento ambientalista (eu me incluo) não tem aproveitado o momento para expor outros absurdos daquelas Casas, como o processo sistemático de desmanche das Leis Ambientais através da bancada ruralista e do próprio ministro da agricultura. Temos de constranger ao máximo aqueles que pretendem dar um sério golpe no meio ambiente brasileiro.
Recorro ainda a Gorki, escritor russo, autor da magnífica obra "A Mãe". Gorki dizia (mais ou menos nos seguintes termos): 'Um amigo de seu filho a visitara em sua casa localizada numa vila. O rapaz impaciente olhava para a janela. A Mãe, com toda a sua sensibilidade disse ao rapaz: lá fora está uma ventania... O rapaz respondeu à Mãe: talvez seja isso que eu esteja precisando... de um bom vendaval!'. Acho mesmo que estamos precisando de um bom vendaval, dar uma boa agitada nessa área da EA, refletir mesmo as nossas ações, as nossas interações, as nossas transversalidades, as nossas causas comuns, as nossas divisões, os nossos egoísmos, as nossas participações nos fóruns de decisões, as nossas dependências do Estado e etc.
Vejo nisso tudo uma grande oportunidade para corrigir rotas.
Passados seis anos de governo Lula, a disputa entre setores identificados com o desenvolvimento sem critérios e aqueles movidos pela sustentabilidade é ainda ferrenha. O governo é sensível, sobretudo, diante do processo de organização que os vários segmentos da sociedade possuem. Se, nos encontramos desunidos e, por consequência enfraquecidos, é óbvio que não conseguiremos avançar dentro do governo. Penso mesmo que o movimento ambientalista deveria é fazer uma profunda reflexão (catarse) sobre tudo o que está acontecendo e aproveitar o momento para encontrar pontos convergentes para a atuação conjunta.
Finalizo, dizendo que a cidadania é o oposto de acomodação. Para fazer valer os direitos de Cidadania devemos lutar, planejar as táticas e as estratégias e reunir o máximo de cidadãos e cidadãs para a mesma causa. Ficar apontando que a culpa é desse ou daquele, ou mesmo que o Presidente LULA precisa de EA, como li numa dessas críticas que circulam na internet, é o mesmo que ficar acomodado, pelo menos, no sentido de ficar somente na retórica e não buscar alternativas práticas para combater o que se considera inadequado. Prefiro conciliar a teoria com a prática. Então, mãos à obra".
Marino Elígio Gonçalves
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