domingo, 15 de março de 2009

Submissão Própria

"O mundo quer imperfeição. Os não-perfeitos são inferiores, podem ser moldados a qualquer forma. Sendo mais baratos, então são preferíveis. É como se o instinto falasse acima de tudo, sempre. O instinto mais primitivo vai sobrepor qualquer razão ou emoção. Não deveria me preocupar tanto. Afinal, sou como um lobo na nevasca. Sou, mas não quero ser para sempre. Estou adquirindo grande parte do que preciso para manter o equilíbrio. Se continuar sendo por tempo em excesso, tornar-me-ei muito frio e calculista. E ainda mais solitário. A cada momento, estou mudando devido a decepções e aprendizados repetitivos, onde a situação é diferente, mas a moral é a mesma. Saber que passei por uma experiência para cair na mesma história é desagradável. Não procuro, não quero ser um extremista e nunca quis. Sei ser filosófico, racional e sei quando as coisas acontecem por acaso. Casualidade, não coincidência. Sei que não é minha hora de mudar isso. Mesmo assim, insisto em tentar, discordar de mim mesmo e ir contra o que sei. Mas me conheço, sei quem sou neste momento, como sou por enquanto e sei que o mundo não é filosófico, nem bonito. Às vezes, nós procuramos nossas próprias perdições. Sensacionalismo! Acredito em que, no fundo, sei que não é verdade, e insisto. Mentiras contadas tantas vezes que parecem verdades, mas saber que não é verdade é contraditório à idéia, e desequilibra a balança. Águias voam livres, corvos voam em bandos. Sou um lobo porque minhas asas ainda estão presas. Um dia, poderei libertá-las e voar para longe. Livre pelos campos. Até lá, construo tudo da maneira que consigo. Se não for como esperado, não destruo. Construo em cima e vou para o terreno vizinho. Assim, repetidamente, construo uma vila que será auto-suficiente para crescer e se tornar eficiente, enquanto construo outras e outras moradias. Sei do meu caminho até certo ponto, e sei que não adianta fugir dele. Ainda insisto em tentar criar algum atalho. Não posso mudar meu caminho, pois necessito de seu aprendizado. Aqui, não tenho o luxo de escolher a maneira mais fácil, nem mesmo de querer desviar, pois, por mais que eu desvie, sempre cairei no mesmo lodo sem fundo e serei rebocado ao caminho inicial. Não adianta tentar explicar, por mais que eu entenda e conheça as razões. Uma máquina que, mesmo sendo fria e calculista, não é uma máquina. É verdadeira, possui emoções e sentimentos, e é sincera quando diz o que sente. Por mais fascinante que todas estas linhas possam ser, esta “máquina-aparente” sabe que, no fundo, aos outros, isso não passará de apenas mais algumas linhas. Não fará diferença alguma, e amanhã tudo voltará ao zero".
(Matheus De Giovanni - Anjo Misantropo, p. 50)

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